sexta-feira, 1 de abril de 2016

A construção do falso eu


Independentemente de suas circunstâncias específicas, quando criança você foi doutrinado com recomendações sobre a importância de ser bom, de ser santo e perfeito. Quase toda vez que seu comportamento não correspondia a essa diretriz, de uma forma ou de outra você era castigado. É muito possível que o pior castigo tenha sido o de seus pais lhe negarem afeto; eles se enraiveciam e você tinha a impressão de que não o amavam mais. Não admira que "maldade" fosse, então, associada com castigo e infelicidade, e "bondade", com recompensa e felicidade. Daí que ser "bom" e "perfeito" se tornou um dever absoluto, uma questão de vida ou morte. Ainda assim, você sabia perfeitamente bem que não era tão bom e tão perfeito como o mundo parecia esperar que você fosse. E isto precisava ser escondido; tornou-se uma culpa secreta, e você começou a construir um falso eu. Este, pensava você, seria a sua proteção, o seu meio de alcançar o que deseja desesperadamente — vida, felicidade, segurança, autoconfiança. A consciência dessa aparência falsa começou a se desvanecer, mas você estava e está permanentemente transpassado pela culpa de fingir ser o que não é. Você se empenha cada vez mais para se tornar esse falso eu, esse eu idealizado. Você estava, e inconscientemente ainda está, convencido de que se se esforçar o bastante, algum dia você será esse eu. Mas através dessa tentativa artificial de comprimir-se dentro de algo que não é, você jamais chegará ao auto-aperfeiçoamento, à autopurificação e a um desenvolvimento autênticos. Você começou a construir um eu irreal sobre BASES FALSAS e deixou de lado o seu verdadeiro eu. Na verdade, você está escondendo isso desesperadamente.

Eva Pierrakos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

"É porque se espalha o grão que a semente acaba
por encontrar um terreno fértil."-
Júlio Verne


>>>>>>>>>>>>>>

"A aventura é, sempre e em todos os lugares, uma passagem pelo véu que separa o conhecido do desconhecido; as forças que vigiam no limiar são perigosas e lidar com elas envolve riscos; e, no entanto, todos os que tenham competência e coragem verão o perigo desaparecer." — Joseph Campbell em, O Herói de Mil Faces

"Acredito que o maior presente que alguém me pode dar é ver-me, ouvir-me, compreender-me e tocar-me. O maior presente que eu posso dar é ver, ouvir, entender e tocar o outro. Quando isso acontece, sinto que fizemos contato" — Virginia Satir

"A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos — eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se (isto é, sofrer ofensa), porque nunca transporta um ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança.[...] A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade" — Krishnamurti