segunda-feira, 4 de abril de 2016

Atitude

[...] O que fazemos com a inquietude por demais familiar que às vezes circula por nós ou com os períodos em que nossas mentes trabalham demais? Se damos dois passos para a frente na nossa jornada, e as vezes que damos um passo para trás? O que fazer para evitar ou ir além dessas armadilhas? Aqui estão algumas sugestões que no caminho recebi de amigos, guias e colegas.

Precisamos permanecer em contato consciente com o nosso Poder Superior através de práticas espirituais regulares que incluam rendição, aceitação e amor. Darmo-nos tempo todo os dias para rezar, meditar, passar algum tempo ao ar livre, ir a encontros de Doze Passos, envolver-nos em atividades criativas ou fazer o que quer que nos ajude a contatar a Personalidade mais profunda. Ter certeza de que o nosso caminho tem um coração, que praticamos a compaixão, que temos generosidade e a estamos descobrindo dentro de nós mesmos. Entregar-se um pouco a cada dia. Passar adiante, como dizem os Doze Passos. Permitir que a Personalidade mais profunda ou Poder Superior opere através das nossas ações. Alguns mestres espirituais dizem que a prática espiritual não é chegar a lugar algum ou acumular nada, mas sim desapegar-se. Experimentar cada momento o mais plenamente possível, e seguir adiante. Aceitar que "isto também passará", que tanto os tempos de felicidade como os períodos dolorosos são transitórios. Ir nas ondas da mudança.

Tratar a inquietude como um sinal de que precisamos fazer algum trabalho de décimo primeiro Passo, contatar conscientemente o nosso Poder Superior. A nossa sede de totalidade é ativada quando nos sentimos desconectados ou sem contato com a Personalidade mais profunda. Como parte da nossa prática, aprendamos a reconhecer nossos anseios quando aparecem. Quando sentimos uma fome profunda, nosso espírito precisa ser alimentado. Ele indica que devemos recuar dos negócios de nossas vidas e nos reconectar. Substituir as tentativas mal direcionadas, potencialmente viciantes, de saciar nossa sede com projetos saudáveis e fortalecedores. Mesmo que não possamos sentir diretamente o nosso Poder Superior, sempre nos podemos recordar da sua presença.

Desenvolver relacionamentos saudáveis com outras pessoas. Um nível da nossa sede vitalícia é o desejo de nos relacionarmos com os outros, de amarmos e sermos amados. Muitos já se sentiram como separados do resto da humanidade. Consideramo-nos diferentes, alienados. A nossa solidão e o nosso anseio de nos encaixarmos levou a relacionamentos doentios, às vezes viciantes. Agora, estamo-nos esforçando para mudar. Quando nos damos conta do nosso desejo de ser incluídos, abrimo-nos. Vencemos nosso medo de rejeição e iniciamos uma interação honesta e amorosa com aqueles em que podemos confiar. Isso não acontece de um dia para o outro. A confiança nos outros surge à medida que desenvolvemos a confiança em nós mesmos. Os relacionamentos se tornam mais fáceis à medida que dermos continuidade à nossa própria cura. 

Escutar o que os outros têm a dizer. Nos programas de Doze Passos ouvimos: "Tire o algodão dos ouvidos e o ponha na boca." Deixemos de nos concentrar apenas em nós mesmos e prestemos atenção às pessoas ao nosso redor. Escutemos as suas necessidades, suas histórias, as lições que têm para nos ensinar. Resista ao impulso de dar conselhos e fazer julgamentos; em vez disso, ofereça empatia e generosidade. 

Trabalhar com um guia espiritual, mestre ou conselheiro, alguém que já avançou bastante em sua própria cura e entende que cada um de nós tem as suas próprias respostas. Já demos algumas indicações de como encontrar um terapeuta adequado. Elas também servem para nos ajudar a encontrar um guia ou conselheiro: um sentimento de empatia com o indivíduo e a evidência de um amplo entendimento que inclui espiritualidade, reconhecimento de que nos curamos e respeito pelos limites, nossos e dele. O papel desses co-aventureiros pode mudar em diferentes estágios do nosso desenvolvimento, à medida que as nossas necessidades mudem.

Complementar a nossa prática espiritual com terapia ou outras formas de auto-exploração. Isso nos ajudará a remover a represa que há entre nós e nossa Personalidade mais profunda. Não podemos ter uma experiência plena da espiritualidade sem abordar nossas questões pessoais.[...]

Aprender a diferenciar isolamento de solidão. Muitos de nós viveram vidas isoladas, mesmo com nossas famílias, amigos, colegas e comunidades à nossa volta. Sentimo-nos menos do que os outros, diferentes, como se olhássemos de fora. Os que foram molestados ou traídos muitas vezes respondem afastando-se do resto do mundo e criando camadas de proteção. Mas, quando nos isolamos, ficamos sozinhos com o nosso discurso mental. Se sentimos vergonha, raiva ou medo, nossas mentes muitas vezes nos enganam. Convencemo-nos de nossas inadequações, justificamos ações danosas ou julgamos e criticamos outros. Contamos a nós mesmos histórias que podem ou não ser verdadeiras. 

Emergir do nosso isolamento é uma parte importante da recuperação. A medida que curamos nossas feridas ou descobrimos nossas forças, cada vez mais desenvolvemos a confiança em nós mesmos e nos outros. Arriscamos interações com outros indivíduos, e os nossos relacionamentos se tornam mais confortáveis. Quando nossas vidas se tornam dolorosas, somos tentados a recuar novamente para o isolamento. Se o fizermos, re-submergimos na desconfiança, na amargura e nas ilusões da nossa mente. 

A solidão é diferente do isolamento. Ao passo que o isolamento ativa a mente, a solidão abre o coração. É estar sozinho consigo mesmo, afastado do resto do mundo, apreciando sua própria companhia. A solidão é uma ação voluntária; o isolamento é uma reação. A solidão é necessária durante a nossa prática espiritual e durante outros períodos de regeneração, introspecção e reconexão. E um recuo saudável. Rezamos, meditamos, caminhamos na floresta e sonhamos solitariamente à noite.

Continuar a trabalhar com a mente e com a intuição. Aprender a assistir às ginásticas mentais e reconhecê-las pelo que são. Confiar na voz interior e a distinguir do "comitê", o papaguear mental que só serve para nos confundir. Escutemos a nossa intuição, não os nossos pensamentos ou os da lógica; todos a possuímos, saibamos disso ou não. Prestar atenção às mensagens de nossos corações, não às mensagens de nossas cabeças. A verdadeira intuição é a sabedoria profunda falando, não o ego.

Envolver-se em atividades regulares de assentamento, que nos ajudam a desenvolver um senso de conexão com a terra e a aplicar nossas compreensões espirituais na vida cotidiana. A jardinagem, pôr realmente as mãos no solo, mantém-nos enraizados no aqui e no agora e estimula nosso respeito pela natureza. Atividades físicas como correr, dançar ou trabalhar manualmente mantêm nossos corpos e nossos pés no chão; também o fazem tarefas simples como cozinhar e cuidar de pequenas coisas na casa.

Perceber quando se está desequilibrado e corrigir isso. Dar igual atenção às nossas necessidades físicas, emocionais, mentais e espirituais. Alguns de nós são mais racionais que emocionais, mais físicos que espirituais, mais orientados espiritualmente que desenvolvidos intelectualmente, e vice-versa. Um aspecto de nós pode estar pedindo atenção hoje, e outro amanhã. Aprender a honrar todas as partes da nossa natureza e cuidar diariamente das que pareçam estar enfraquecidas. Se precisamos descansar, tiramos um cochilo por uma hora ou duas, ou saímos um pouco. Se estamos perturbados ou nos conscientizamos de um problema específico nas nossas vidas, encontramos alguém que nos possa ajudar a descobrir as raízes do nosso desconforto. Se estamos entediados, agimos: lemos alguma coisa estimulante, estudamos uma língua ou nos envolvemos num projeto criativo.

Reconhecer quando se precisa de ajuda e ser humilde o bastante para pedi-la e aceitá-la. Durante anos podemos ter dependido apenas de nós mesmos. Quando os outros demonstraram não ser confiáveis, pelo menos sabíamos que podíamos confiarem nós mesmos. Se tudo o mais falhava, podíamos virar-nos sozinhos. Originalmente, essa pode ter sido uma estratégia de sobrevivência essencial. No entanto, como tantas soluções criativas, o medo e a desconfiança que há por trás dela acabam por prejudicar o nosso desenvolvimento. Temos dificuldade de pedir ajuda mesmo quando sabemos que os outros podem ajudar. Somada a isso há uma máscara de orgulho que pode ser uma cobertura para a nossa vergonha e baixa auto-estima. Não deixaremos ninguém chegar perto de nós porque temos todas as respostas. O que eles podem acrescentar?

Infelizmente, essa atitude nos tira o entendimento, a sabedoria, a orientação que os outros nos podem oferecer. Encoraja o isolamento. Um fator importante para mudar de atitude é criar uma "família escolhida", uma comunidade de indivíduos generosos e amorosos que estejam trilhando o mesmo caminho que nós. São essas pessoas para quem podemos telefonar quando estamos num dia ruim, quando precisamos de um ouvido amigo ou de uma palavra amorosa. São esses amigos e membros da família que nos permitem ser quem realmente somos, que nos respondem honestamente e nos amam. Quando buscamos auxílio e recebemos a resposta que desejamos, deixamos alguém entrar no nosso mundo. Abrimos os portões do nosso isolamento com humildade e esperança. 

Aceitar que somos humanos e que ser humano é apegar-se. Somos muito duros com nós mesmos. Podemo-nos tornar disciplinados e responsáveis sem sermos autocríticos. Precisamos ser gentis conosco e fazer o melhor que pudermos, um momento de cada vez. Descobrimos o contentamento à medida que progredimos, em vez de nos forçarmos à perfeição, como dizem os Doze Passos. Desenvolver compaixão pelo nosso próprio drama e pelo nosso próprio caminho; perdoar a nós mesmos quando precisamos de perdão. 

Praticar o serviço regularmente. Esse é uma pedra angular de muitas tradições espirituais, incluindo os Doze Passos. Ajudar os outros sem se apegar ao resultado. Devolver parte do que recebemos. Fazer o trabalho do décimo segundo Passo, que é tão importante nos programas de Doze Passos. Saber que quando fazemos algo por outra pessoa, nós o estamos fazendo por nós mesmos e por Deus. Expressar através de ações compassivas as lições que estamos aprendendo pelo caminho. Não precisamos salvar o mundo ou fazer algo grandioso. Talvez o serviço seja simplesmente dar atenção desinteressada às necessidades das pessoas da nossa família, comunidade ou trabalho. 

Desenvolver nosso senso de humor e aprender a brincar. Sorrir. Não levar tudo tão a sério. Sejamos capazes de rir de nós mesmos, do nosso drama, da dança em que estamos juntos. Angeles Arrien diz que onde não há senso de humor há apegos. Podemos levar nossos caminhos a sério sem nos apegarmos a eles. 

Descobrir o nosso papel e executá-lo da melhor maneira possível. Determinar o que nos inspira e gera a nossa criatividade. Isso não tem nada a ver com imitar outra pessoa. Embora os outros possam servir de modelo ou exibir qualidades que gostaríamos de imitar, eles não nos podem dizer onde nos encaixamos. Esse conhecimento vem de olhar para dentro e aprender onde nos sentimos mais vitais, assim como de descobrir a coragem e a autoconfiança para agir. O drama humano necessita de uma ampla variedade de personagens para ser dinâmico e significativo. Está claro para mim que não posso tornar-me um Martin Luther King Jr. ou uma Madre Teresa. Mas posso me inspirar neles, olhar dentro de mim e achar minha finalidade particular. 

Continuar a acordar para o aqui e o agora. Essa é uma extensão de toda a nossa prática espiritual e de todo o nosso trabalho terapêutico. Prestar atenção. Perceber as ocasiões em que deitamos preguiçosamente na zona cinzenta ou escapamos para o ozônio. Correr riscos, ser corajoso o bastante para continuar a se mover pelo que a vida pode trazer. Reconhecer os dons e usá-los. Estar presente em cada ato da peça. 

Não complicar as coisas, um maravilhoso lema dos programas de Doze Passos. Simples e fácil nem sempre são sinônimos. Não ser atraído pelos exageros e complexidades do mundo das nossas mentes. Diminuir a velocidade. Notar as ocasiões em que estamos ocupados demais, sobrecarregados e complicados. Manter o contato com as mensagens dos nossos corpos e corações, harmonizando os complexos detalhes das nossas vidas com atividades simples. Uma amiga que trabalha como terapeuta transpessoal diz que, depois de interações intensas com um indivíduo ou com um grupo, ela muitas vezes chega a casa e lava o chão, seja isso necessário ou não. Esse exercício prático e terreno a equilibra, devolvendo-lhe um senso de harmonia e simplicidade. 

Praticar esses princípios em todos os nossos assuntos é outra frase dos Doze Passos. Deixemos que tudo que façamos reflita as nossas qualidades de maturidade espiritual em desenvolvimento. Quer estejamos cortando legumes, cuidando dos nossos filhos ou falando às Nações Unidas, deixar que nosso caminho seja um espelho para a nossa verdade espiritual. Estejamos operando num nível individual, familiar, nacional ou planetário, os princípios são os mesmos.

Christina Grof em, Sede de Plenitude

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"Acredito que o maior presente que alguém me pode dar é ver-me, ouvir-me, compreender-me e tocar-me. O maior presente que eu posso dar é ver, ouvir, entender e tocar o outro. Quando isso acontece, sinto que fizemos contato" — Virginia Satir

"A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos — eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se (isto é, sofrer ofensa), porque nunca transporta um ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança.[...] A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade" — Krishnamurti