Para vivermos em paz, temos de ser pacíficos e isso exige abundante energia, porquanto estamos condicionados para não ser pacíficos. Somos agressivos, dominadores, competidores, brutais. Nossa maneira de vida não é de modo nenhum pacífico, porque todas as nossas atividades são essencialmente egocêntricas e, portanto, geradoras de conflito. Muitos poucos entre nós se empenham em ser livres. Tendemos à revolta, a nos chocar com algo ou com alguém. No estado de revolta, como é fácil verificar, se desenvolvem outras reações em que o indivíduo se vê enredado e em constante conflito, interior e exteriormente. Nunca somos livres; jamais nos empenhamos em ser livres interiormente e, por esta razão, andamos sempre às voltas com problemas e contradições de todo tipo.
Ora, para sermos livres necessitamos de imensa energia. A liberdade e a paz não são meros conceitos intelectuais ou ideais que deverão ser alcançados com força e luta. O esforço e a luta para alcançar alguma coisa exigem também uma certa disciplina, controle, imitação; mas a liberdade a que nos referimos não depende de resolução, volição ou determinação. Ela se apresenta quando em nós mesmos existe clareza, quando estamos perfeitamente lúcidos. Achando-nos confusos e em contradição, as atividades resultantes dessa confusão só podem causar maior confusão, mais contradições e falta de clareza... Se estou confuso, as coisas que faço, os pensamentos e sentimentos que tenho, serão inevitavelmente confusos. Não há uma só parte de mim mesmo livre de confusão. A ideia de que há momentos em que estou muito lúcido é em verdade inteiramente enganosa. Se me observo e me examino, posso ver que estou totalmente confuso. E todo pensamento, ação e sentimentos nascidos dessa confusão levarão necessariamente a maior confusão. Cumpre perceber e compreender isso claramente, pois pensamos que existe alguma parte de nós mesmos que percebe muito claramente as coisas. Se, de fato, essa parte está vendo alguma coisa com clareza, nesse caso a outra parte está a contradizer aquilo que está claro. Posso em dados momentos, fazer uma certa coisa com lucidez, porém acontece que, noutros momentos, não estou lúcido.
Há contradição entre a lucidez que às vezes penso ter, e a falta de clareza que existe quando estou confuso. Em verdade, não há clareza nenhuma. Estamos confusos. Nos é dificílimo admiti-lo, mesmo a nós próprios. Gostamos de aparentar clareza, em certos momentos, porém tal clareza não existe.
Torna-se, por conseguinte, importantíssimo investigar o que significa ser sério.[...] m geral, temos a impressão de que somos bastante sérios, entretanto nunca indagamos qual deve ser o estado da mente que de fato é séria — de fato, e não apenas séria "em relação a alguma coisa". Se somos sérios em relação a alguma coisa, isso nos levará sempre a novas aflições. Tal é o caso do homem que toma "seriamente" uma bebida ou que "seriamente" se devota a uma ideia, uma causa, que se mostra muito sério em relação a um dado compromisso e se esforça por levá-lo a bom termo. Consideramos "sérias" as pessoas que têm um conceito, ideia ou ideal a que se consagram lógica, brutal, impiedosamente, ou com uma certa simpatia humana. Consideramos "sério" o homem que assim procede; mas esse homem é realmente sério? É sério aquele que segue um determinado plano de ação que formulou ou concebeu para si próprio ou que recebeu de outrem, vivendo de acordo com tal padrão e, portanto, condicionado? Tal pessoa, para mim, não é séria, em absoluto, porquanto jamais considerou o que significa "ser sério", qual o estado da mente que é séria, sem ser "em relação a alguma coisa".
[...] A pessoa que em geral consideramos séria é um ente humano parcialmente sério, isto é, sério em relação a uma certa coisa. Sua mente funciona fragmentariamente. É muito "sério", por exemplo, em relação à pintura; sente intensamente, em matéria de pintura, de arte, de música, etc., mas da outra parte da mente não está cônscio, não a leva sequer em consideração. Suas atividades sociais, suas reações diárias, etc., são sem importância, porque ele se consagrou de corpo e alma a um certo fragmento da existência. Poderá ser artista, cientista, poeta, escritor, porém, enquanto, política ou religiosamente, sua mente funciona fragmentariamente e se mantiver ligada a esse fragmento, tal atividade fragmentária, decerto, não indica seriedade, porquanto contradiz a outra parte da existência.
Para mim, a pessoa séria é aquela que não funciona fragmentariamente, isto é, cuja mente não pensa fragmentariamente.
Nos é possível estar totalmente atentos ao todo da vida, não apenas aos fragmentos, às partes, porém à sua totalidade? Se uma pessoa é verdadeiramente séria, não existe contradição. A pessoa que não é séria, essa é que vive em contradição. Isso está bem claro? Por favor, não concorde nem discorde. Examine o que se está dizendo e, por si mesmo, sinta, tome conhecimento dessa ação fragmentária, para não considerar sério aquilo que não é sério e descobrir o que é uma mente realmente séria, que não funciona por fragmentos, porém considera o todo. Esta, decerto, é a mente séria: a mente que está cônscia do processo total da vida.
[...] Estamos falando a respeito da seriedade, porque, de alguma maneira, precisamos eliminar a contradição existente em nós mesmos — fonte de todos os conflitos. A mente que se acha em conflito é incapaz de perceber, de ver. É uma mente deformada; e a contradição, à medida que vai se tornando mais aguda, leva a várias formas de desequilíbrio, psicoses, etc. etc. É possível a uma mente, uma pessoa, viver — na vida diária — livre de contradição e, portanto, livre de conflito? Para o descobrirmos, temos de investigar o que é uma mente séria. Se conseguimos compreender isso, não continuaremos, talvez, a funcionar fragmentariamente, porém com base num estado totalmente diferente, num estado inteiramente livre de contradição.
[...] É essencial que o homem viva em paz; isso significa que ele deve levar vida pacífica. A palavra "levar" inclui aqui o todo da vida, e não uma parte apenas. É possível isso, ao cérebro, que há tantos séculos vem sendo educado, exercitado, condicionado para aceitar e seguir uma maneira de vida em que existe conflito? As células cerebrais já estão habituadas com essa maneira de vida. Nossa atitude perante a vida não é pacífica. Toda a nossa estrutura social, moral, ética, religiosa não é pacífica. Essa estrutura psicológica que o homem vem criando através dos séculos, através da chamada evolução, faz parte de nós. Nós somos ela.[...] Nossa maneira de vida é a guerra, e não a paz, porque vivemos competindo. Nossos cérebros "respondem" de acordo com esse condicionamento, que implica conflito, batalha, luta. É possível alterar-se toda essa estrutura de que fazemos parte, de que o próprio cérebro faz parte? Pode-se colocar-lhe fim? Pode o pensamento, que criou uma maneira de vida em que existe conflito, pode esse mesmo pensamento, que é o resultado de séculos de violência, colocar-lhe fim? Pode o pensamento colocar fim a uma maneira de vida que é brutal?[...] O pensamento não pode extingui-lo. O pensamento o criou: por conseguinte, o pensamento não pode destruí-lo. Poderá criar padrões opostos, os quais entretanto conterão os germes da violência, porque o pensamento só pode criar um teor de vida para sua própria satisfação.
[...] A menos que a mente descubra a fonte do pensamento, ver-se-á sempre de novo enredada num sistema de vida que levará finalmente ao conflito, uma maneira de vida que é violência. Aquela fonte precisa ser descoberta.
Jiddu Krishnamurti em, Encontro com o Eterno
[...] Estamos falando a respeito da seriedade, porque, de alguma maneira, precisamos eliminar a contradição existente em nós mesmos — fonte de todos os conflitos. A mente que se acha em conflito é incapaz de perceber, de ver. É uma mente deformada; e a contradição, à medida que vai se tornando mais aguda, leva a várias formas de desequilíbrio, psicoses, etc. etc. É possível a uma mente, uma pessoa, viver — na vida diária — livre de contradição e, portanto, livre de conflito? Para o descobrirmos, temos de investigar o que é uma mente séria. Se conseguimos compreender isso, não continuaremos, talvez, a funcionar fragmentariamente, porém com base num estado totalmente diferente, num estado inteiramente livre de contradição.
[...] É essencial que o homem viva em paz; isso significa que ele deve levar vida pacífica. A palavra "levar" inclui aqui o todo da vida, e não uma parte apenas. É possível isso, ao cérebro, que há tantos séculos vem sendo educado, exercitado, condicionado para aceitar e seguir uma maneira de vida em que existe conflito? As células cerebrais já estão habituadas com essa maneira de vida. Nossa atitude perante a vida não é pacífica. Toda a nossa estrutura social, moral, ética, religiosa não é pacífica. Essa estrutura psicológica que o homem vem criando através dos séculos, através da chamada evolução, faz parte de nós. Nós somos ela.[...] Nossa maneira de vida é a guerra, e não a paz, porque vivemos competindo. Nossos cérebros "respondem" de acordo com esse condicionamento, que implica conflito, batalha, luta. É possível alterar-se toda essa estrutura de que fazemos parte, de que o próprio cérebro faz parte? Pode-se colocar-lhe fim? Pode o pensamento, que criou uma maneira de vida em que existe conflito, pode esse mesmo pensamento, que é o resultado de séculos de violência, colocar-lhe fim? Pode o pensamento colocar fim a uma maneira de vida que é brutal?[...] O pensamento não pode extingui-lo. O pensamento o criou: por conseguinte, o pensamento não pode destruí-lo. Poderá criar padrões opostos, os quais entretanto conterão os germes da violência, porque o pensamento só pode criar um teor de vida para sua própria satisfação.
[...] A menos que a mente descubra a fonte do pensamento, ver-se-á sempre de novo enredada num sistema de vida que levará finalmente ao conflito, uma maneira de vida que é violência. Aquela fonte precisa ser descoberta.
Jiddu Krishnamurti em, Encontro com o Eterno
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