Outra estratégia de sobrevivência é a reclusão de circunstâncias perigosas ou dolorosas, quando nos retiramos física ou emocionalmente. Podemos fugir, isolar-nos dos outros ou tornarmo-nos silenciosos. Recusamo-nos a admitir as emoções que sentimos. Nós as reprimimos, armazenamos em recessos profundos e escondidos de nosso ser. Desse modo nos protegemos. Evitamos a realidade da dor que existe ao nosso redor e dentro de nós e escondemos nossas respostas. Negamos aos nossos molestadores a satisfação de uma reação. E damos a nós mesmos uma sensação de domínio: a nossa participação ou não no mundo ao redor ou nos relacionamentos próximos depende de nós. Temos poder para decidir se e quando iremos favorecer os outros com a nossa presença física ou emocional. Qualquer um que já tenha recebido um "tratamento silencioso" ou já tenha sido deixado do lado de fora do quarto e dos pensamentos de outro conhece o tipo de poder que a pessoa ausente possui nesses momentos.
Embora possamos apreciar a engenhosidade que originalmente criou esses mecanismos de defesa, eles têm um lado sombrio que acaba nos pegando. Sempre que atacamos raivosamente qualquer um por perto, sempre que mantemos uma atitude excessivamente crítica ou nos retiramos para o silêncio e a solidão quando há desconforto, nós nos separamos dos outros. Armamos uma situação em que não podemos encontrar o contato amoroso que desejamos tão desesperadamente; criamos barreiras demais entre nós mesmos e os que estão perto de nós.
Se conseguirmos lidar com nosso medo, vergonha e raiva agindo para fora, poderemos fazer o mesmo agindo para dentro, voltando-os contra nós mesmos. Descarregar em si mesmo é muitas vezes mais fácil do que nos outros; e não parece tão arriscado. Se deixarmos alguém saber como realmente nos sentimos, ele pode nos ferir. Se investirmos na afeição e aceitação daquela pessoa, ficaremos mais confortáveis internalizando emoções indesejáveis, mesmo quando são autodestrutivas. Se dependermos da nossa imagem de boa menina, frequentadora da igreja ou funcionário eficaz, expressar os chamados sentimentos "negativos" não é apropriado.
Em vez de expressar raiva, nós nos tornamos furiosos conosco, transformamos nossa raiva em depressão. O medo de situações concretas se torna uma ansiedade generalizada e constante, e a vergonha que se originou das ações da outra pessoa fica estagnada dentro de nós. Preferimos julgar, criticar e odiar a nós mesmos, em vez de voltar esses sentimentos para outra pessoa. Se fomos molestados, aprendemos a molestar nossos corpos, mentes, emoções e espíritos, em vez de revidar. Em vez de fazer com que um amigo ou membro da família seja responsável pelas próprias ações, nós nos culpamos. Sentimo-nos mais saudáveis condenando nossas próprias percepções do que acreditando que aqueles que nos protegem e amam estejam errados.
Embora essa abordagem possa oferecer, de início, certa medida de segurança e proteção, os seus inconvenientes são muitos. Somos mais duros conosco do que com os outros e danificamos nossa própria integridade no processo. Constantemente interiorizando emoções e opiniões imerecidas, diminuímos o nosso senso de valor e auto-estima. Isso pode levar a mais isolamento ou autodestruição via estresse, vício, doença ou suicídio.
Christina Grof em, Sede de Plenitude - Apego, Vício e Caminho Espiritual
Christina Grof em, Sede de Plenitude - Apego, Vício e Caminho Espiritual
Nenhum comentário:
Postar um comentário