Quando falamos de experiência, entendemos "reação a um desafio", a reação a um desafio da sociedade, da economia social, etc. — repito: reação a um desafio. E essa reação ao desafio é "experiência"; é o resultado de seu condicionamento, como hinduísta, como budista, como comunista, técnico, etc. Esse é o seu fundo, seu temperamento, seu estado de espírito; daí é que você reage, que "responde" a qualquer desafio que se apresenta; e essa reação é "experiência". Assim, pois, em conformidade com seu fundo, com seu condicionamento, seu temperamento, suas emoções, você "projeta" coisas; e tais "projeções" constituem suas experiências. Assim nos vemos colhidos numa rede de intermináveis experiências, experiências resultantes de nossas próprias "projeções", conforme os desafios que recebemos.
Assim, a mente que busca por experiências está meramente a furtar-se ao fato — o que é. Assim, devemos estar sumamente vigilantes, a fim de não exigirmos experiência de espécie alguma. Você percebe o que estamos fazendo? Estamos despojando a mente de tudo o que é falso, despojando-a das crenças nos deuses, nos sacerdotes, no mantra, na recitação de orações, e, mesmo, da exigência de super-experiências — experiências supra-sensíveis. Não estamos falando ilogicamente, porém lógica e sensatamente. Atrás do que está se dizendo, está a razão; não se trata de nenhuma fantasia ou capricho. Assim, pois, se você está seguindo o que estamos dizendo, sem lhe conferir nenhum caráter de autoridade, você verá que de sua mente terão sido varridas todas as cargas que a sociedade e as religiões lhe impuseram; estará, então, frente a frente com você mesmo.
Ora, compreender a si próprio é absolutamente necessário. Meditar é esvaziar a mente, e, nesse estado de vazio, ocorre a "explosão" que nos lança no desconhecido. A mente que está repleta, que está carregada de problemas, a mente que se acha em conflito, que não explorou as profundezas de si própria, não tem possibilidade de esvaziar-se. E a meditação é o esvaziar da mente, não no final, porém imediatamente, fora do tempo.
Investiguemos agora o estado da mente que aprende a respeito de si própria. Porque, se você não aprende a respeito de si mesmo, não tem base para qualquer investigação ou outra exploração mais profunda; se você não aprende a respeito de si mesmo, fica meramente a se enganar, a se hipnotizar para aceitar todo gênero de crenças, de dogmas, de orações, de visões. eve, pois, aprender a respeito de si mesmo; esta é a base essencial. E você pode fazê-lo, instantaneamente e de modo completo; e essa é a única maneira de você aprender a respeito de si mesmo — e não pelo processo da análise ou do exame introspectivo, que requer tempo. Mas, como já dissemos, não há amanhã, não há instante seguinte; só há o presente, só há o agora tremendamente vivo; e, para compreendê-lo, você deve afastar de todo, de sua mente a ideia de "compreensão gradual".
Agora, para aprendermos a respeito de nós mesmos, necessitamos de certa vigilância. Não estamos dando a esta palavra nenhum sentido místico. Trata-se da vigilância comum, de cada dia: estar-se consciente das cores, das árvores, da sordidez, da imundície; estar consciente da esposa e dos filhos — observá-los, ver como se vestem, de que maneira falam. Estar simplesmente — consciente. Você sabe o que entendo por esta palavra? Ao entrar nesta tenda, perceber as cores, perceber as várias pessoas sentadas, como estão sentadas, se bocejam, se estão sonolentas, cansadas, forçando-se a escutar, na esperança de obterem alguma coisa, os tiques nervosos que estão executando.
Perceber sem condenar, sem julgar; observar pura e simplesmente, e sem escolha, olhar sem condenação, interpretação, comparação; nisso há grande beleza, e grande clareza na observação. Se você se observar dessa maneira sem escolha, então, nesse percebimento, existe atenção, nenhuma entidade existe como "observador", nem "coisa observada". Não há "observador" a olhar aquilo que está observando.
[...] A mente, em geral, é "barulhenta". Está sempre "tagarelando". Sempre monologando, ou dizendo repetidamente o que irá fazer, o que fez, o que deve fazer, etc. Nunca está quieta. E você pensa que, para produzir esse estado de quietude mental, deve praticar algum método — método que, por sua vez, se torna mecânico.
Mas, se você estiver consciente de cada pensamento, ao surgir, sem julgar , sem condenar nem aceitar — porém simplesmente num estado de atenção — verá que a mente se torna extraordinariamente quieta; você não a disciplinou para torná-la quieta — pois isso é de efeito mortal.
Porque, se se disciplina a mente, ela se torna superficial, vazia, morta. A mente deve ser viva, vigorosa, plena, cheia de vitalidade.
Se você está atento, dessa atenção vem sua peculiar disciplina, não solicitada, não-repressiva. Só a mente que dessa maneira se disciplinou, pela atenção de si própria e não mediante compulsão e ajustamento — só essa mente é lúcida. Então, a mente que está atenta aprendeu a respeito de si própria, a respeito de seus conscientes e inconscientes motivos, fantasias, ilusões, temores, ambições, avidez, ciúme, competição, e todas as demais coisas que somos nós; quando a mente, mediante vigilância, aprendeu a respeito de si própria, torna-se então quieta, não disciplinada, não narcotizada por drogas, não-mesmerizada. Essa é a mente tranquila. Ela tem de estar tranquila, do contrário, não estará vazia.
A mente de todos nós é o resultado de dois milhões de anos de tempo. Ela está condicionada e moldada; sob a compulsão de muitas impressões, sujeita a grande tensão, de ordem consciente e inconsciente; impelida pelas circunstâncias. Essa mente, pois, se não estiver totalmente quieta — quieta, e não exigindo, nem procurando — não ficará vazia.
Toda coisa nova só pode verificar-se no vazio. Um novo ente humano é concebido num ventre vazio. A mente, por conseguinte, deve estar vazia, e não ser "colocada vazia" mediante pensamento inibitivo, controlador, repressivo; isso não é vazio, porém apenas outra forma de fuga à realidade. E a realidade é você mesmo, o que verdadeiramente você é, e não o Super-Atman, que é invenção de nossas avós, de nossos pais, dos Sankaras e Budas. Tudo isso tem de ir-se, para que a mente se torne completamente vazia e tranquila.
Então, nesse vazio, há um movimento que é criação. Nesse vazio, há a energia de que a mente necessita para alcançar a Imensidade. E todo esse processo, do começo "negativo" até o fim, o qual não é uma fuga da vida, porém a própria compreensão da vida — todo esse processo é meditação. E você verá, então, que estará meditando em todo o correr do dia, e não num certo minuto do dia; estará meditando no escritório, no ônibus, onde quer que você se encontre. Você estará diretamente em contato com a vida. Estará meditando, enquanto fala, porque estará vigilante; estará atento ao que estará dizendo e a como o estará dizendo, a como falará com seu funcionário, se o tem. Estará vigilante, estará atento; por conseguinte, a mente, que é limitada, que é estreita, vulgar, agrilhoada pelo tempo, se libertará. Só essa mente pode encontrar o Eterno.
Essa é a beleza da meditação. nela, não há compulsão nem esforço de espécie alguma. E o homem que é capaz de meditar, o homem que compreendeu o que é a meditação, só esse, e nenhum outro, pode dar ajuda.
Jiddu Krishnamurti em, Uma Nova Maneira de Agir
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