Em verdade, como pais sois também mestre, porque vosso filho vive em vossa companhia; vós o amestrais, ele vos obedece e se forma segundo vossa imagem. A criança tem seu mestre na escola, mas em casa sois vós o mestre, que lhe ensina o que é permitido e o que não é permitido, impelindo-o a imitar-vos, a copiar-vos, a seguir nas vossas pegadas, para tornar-se alguém na sociedade. O que vos interessa é unicamente a segurança de vosso filho, que é vossa própria segurança; desejais que ele se torne respeitável, que aprenda a ganhar o seu sustento e a ajustar-se às exigências da presente ordem social. A isso chamais amor; mas é amor? Que significa amar a um filho? Por certo, não significa encorajá-lo a tornar-se uma miniatura de vossa própria imagem, moldada pela sociedade, pela chamada cultura; significa, ao contrário, ajudá-lo a crescer livre. Ele adquiriu certas tendências, herdou de vós certos valores e, portanto, não pode ser livre no começo; mas amá-lo é ajudá-lo desde o começo, a libertar-se constantemente, para que se torne um autêntico indivíduo e .não meramente uma máquina imitativa.
Se amais vosso filho, não o educareis para se ajustar à sociedade, porém, sim, para criar sua própria sociedade, a qual pode ser completamente diferente da atual; não o ajudareis a ter uma mente tradicionalista mas, sim, uma mente capaz de investigar a significação de todas as influências que a cercam, influências culturais, sociais, religiosas e nacionais, sem se deixar prender por nenhuma delas, de modo que sua mente esteja livre para descobrir o que é verdadeiro. Tal é, por certo, a educação correta. Porque, com ela, a criança se tornará um ente humano livre, independente e capaz de criar seu mundo próprio, uma sociedade de espécie toda diferente; dotado de, confiança e da capacidade de construir o seu próprio destino, ele não desejará vossa propriedade, vosso dinheiro, vossa posição, vosso nome. Mas atualmente é o inverso disso que se observa; esperais que vosso filho leve avante vossa propriedade, vosso dinheiro, vosso nome, e a isso é que chamais amor.
Jiddu Krishnamurti em, Da Solidão à Plenitude Humana
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