terça-feira, 15 de março de 2016

A perda da vivacidade da infância

[...] O senhor A. não se lembrava de ter apanhado de seu pai. Apesar disso, o pai tratava a criança, sem querer e sem saber, de modo igualmente cruel, assim como tratava mal a criança que havia em si próprio, para FAZER dela uma "criança satisfeita". Procurou sistematicamente exterminar TODA VIVACIDADE DE SEU PRIMOGÊNITO. Se o resto de vida que sobrou a essa criança não tivesse migrado para uma NEUROSE OBSESSIVA e, dali, anunciado sua miséria, então ela estaria de fato psiquicamente morta, pois seria apenas A SOMBRA DE OUTRO, não teria necessidades próprias, já não conheceria nenhum sentimento espontâneo, mas apenas o vazio depressivo e o medo de suas obsessões. Na análise, o senhor A. ficou sabendo, só aos 42 anos de idade, que criança viva, curiosa, inteligente, esperta, bem-humorada ele realmente fora, criança essa que pôde então viver nele pela primeira vez e desenvolver forças produtivas. Com o tempo tornou-se claro para ele que seus graves sintomas, de um lado, eram a consequência da repressão de importantes partes vitais de seu SELF e, de outro, espalhavam conflitos inconscientes de seu pai. Nas obsessões torturantes do filho revelavam-se a devoção cambaleante do pai, bem como as dúvidas reprimidas e não vivenciadas dele. Se este as tivesse podido vivenciar, amadurecer e INTEGRAR DE MANEIRA CONSCIENTE, então o filho teria tido a chance de crescer livre delas e de poder viver antes sua vida própria e rica, sem a ajuda da análise. 

Alice Miller em, 
no princípio era a educação 
martinsfontes

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"É porque se espalha o grão que a semente acaba
por encontrar um terreno fértil."-
Júlio Verne


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"A aventura é, sempre e em todos os lugares, uma passagem pelo véu que separa o conhecido do desconhecido; as forças que vigiam no limiar são perigosas e lidar com elas envolve riscos; e, no entanto, todos os que tenham competência e coragem verão o perigo desaparecer." — Joseph Campbell em, O Herói de Mil Faces

"Acredito que o maior presente que alguém me pode dar é ver-me, ouvir-me, compreender-me e tocar-me. O maior presente que eu posso dar é ver, ouvir, entender e tocar o outro. Quando isso acontece, sinto que fizemos contato" — Virginia Satir

"A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos — eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se (isto é, sofrer ofensa), porque nunca transporta um ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança.[...] A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade" — Krishnamurti