[...] O senhor A. não se lembrava de ter apanhado de seu pai. Apesar disso, o pai tratava a criança, sem querer e sem saber, de modo igualmente cruel, assim como tratava mal a criança que havia em si próprio, para FAZER dela uma "criança satisfeita". Procurou sistematicamente exterminar TODA VIVACIDADE DE SEU PRIMOGÊNITO. Se o resto de vida que sobrou a essa criança não tivesse migrado para uma NEUROSE OBSESSIVA e, dali, anunciado sua miséria, então ela estaria de fato psiquicamente morta, pois seria apenas A SOMBRA DE OUTRO, não teria necessidades próprias, já não conheceria nenhum sentimento espontâneo, mas apenas o vazio depressivo e o medo de suas obsessões. Na análise, o senhor A. ficou sabendo, só aos 42 anos de idade, que criança viva, curiosa, inteligente, esperta, bem-humorada ele realmente fora, criança essa que pôde então viver nele pela primeira vez e desenvolver forças produtivas. Com o tempo tornou-se claro para ele que seus graves sintomas, de um lado, eram a consequência da repressão de importantes partes vitais de seu SELF e, de outro, espalhavam conflitos inconscientes de seu pai. Nas obsessões torturantes do filho revelavam-se a devoção cambaleante do pai, bem como as dúvidas reprimidas e não vivenciadas dele. Se este as tivesse podido vivenciar, amadurecer e INTEGRAR DE MANEIRA CONSCIENTE, então o filho teria tido a chance de crescer livre delas e de poder viver antes sua vida própria e rica, sem a ajuda da análise.
Alice Miller em,
no princípio era a educação
martinsfontes
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