[...] Percebo que fui educado muito erradamente. Que posso fazer? Posso reeducar-me, ou estou mutilado para o resto da vida?
Quando a mente está doente, quando o cérebro está doente, é impossível a educação, não achais? Mas nós somos entes humanos vivos, e em nós existe aquela qualidade, aquela inteligência que pode ser despertada e que pode educar-se a si própria. Não há entidade humana que esteja tão mutilada, que não possa promover sua própria regeneração.
E muito difícil compreendermos que fomos educados erroneamente. Antes de dizerdes que tendes de reeducar-vos, não deveis saber que fostes educados erroneamente? É tão fácil dizer que fomos educados erroneamente! Isto é, podeis ter sido educado para exercerdes uma determinada profissão técnica, e descobrirdes que ela não corresponde à vossa vocação, mantendo-vos nela, entretanto, por causa das vossas responsabilidades. Abandonar aquela profissão e adotar outra — isso é educação? Ou o aprender outra língua, aprender outra técnica, é educação? Sem dúvida, para se descobrir o que é educação correta, requer-se muito percebimento e penetração. Não é tão fácil asseverar que os mais de nós fomos educados erroneamente.
Nossa educação, desde a infância, foi sempre o cultivo do temor, e é só ele que conhecemos. Sempre nos criaram desse modo. Fazem-nos estúpidos, por meio dos exames, da comparação com o aluno inteligente, com o pai, com a mãe, com o tio; pela compulsão, sob várias formas, por parte dos pais, dos mestres, da sociedade; quer dizer, pelo cultivo do temor. Saindo do colégio, ajustamo-nos a um falso padrão de vida, para fazermos o que nos mandam fazer.
O medo determina o inevitável curso da nossa vida; e, na medida em que crescemos, a vida se torna mais sombria e confusa. Eis o que é a vossa vida; mas os pais não compreendem que o medo destrói e que o medo não nasce, quando, desde a infância, não se fazem comparações, não se fazem exames e, sim, somente, observações e anotações a respeito de cada criança.
Toda a nossa educação, religiosa, econômica, social, está baseada no cultivo do temor. Vós desejais ser alguém; do contrário, não sois ninguém; por isso, lutais, competis e vos destruís. Só o homem que não tem medo é ninguém. Ser ninguém é que é a verdadeira educação. Há o espírito do anonimato nas grandes coisas da vida criadora. A verdade é anônima, não é vossa nem minha. Não pode haver anonimato, quando a mente tem medo.
Assim, pois, descobrir os modos de ação do temor, e ser livre — não no fim da vida, mas ser livre desde o começo, compreendendo o que é o temor — isto é que é a verdadeira educação. Desde a meninice precisamos compreender os modos de ação do temor, para que, crescendo, saibamos enfrentar o temor e todos os problemas da vida; para que a nossa mente, ainda que encontre problemas contínuos, seja sempre fresca, nova; e para que nunca haja fator algum de deterioração, tal como a memória de ontem.
Krishnamurti em, Morrer para renascer
Maravilhoso!Krishna Murti, como alguns homens da história da humanidade é atemporal!
ResponderExcluirUm texto como jamais deixará de ser atual, pois apesar da antiguidade dos diversos tipos de condicionamento,o processo de demolição precisa ser renovado.
Hoje olho minha mãe e minha filha com muito cuidado, percebo que eu,em meu estado de constante observação,posso quebrar essa continuidade de doenças e equívocos.
Com muita calma tento oferecer essa liberdade a minha filha, sem impor meus conceitos, deixando ela pensar sobre todos os assuntos e sobretudo olhando bem de perto pra mim todas as vezes que ela se opõe.Sei que o medo vem,mas até isso eu sei que faz parte do processo de desintoxicação familiar,pois aprendemos que o que é diferente do padrão estabelecido, traz insegurança,ou seja, uma falsa insegurança, ou até seguindo o proposto, uma falsa segurança.