terça-feira, 17 de maio de 2016

Do nascimento da criança

A criança nasce una, inteira. É por isso que toda criança é tão bonita. A beleza se deve à totalidade. A criança não tem brechas, cisões, divisões ou fragmentos. A criança é una; o real e o irreal não estão presentes e a criança é simplesmente real e autêntica. Não se pode dizer que a criança seja a moral; ela não é moral nem imoral, e simplesmente não está ciente de que há algo moral ou imoral. No momento em que ela fica ciente, começa a cisão, e então ela começa a se comportar de maneiras irreais, pois ser real fica cada vez mais difícil. 

Lembre-se, isso acontece por necessidade, pois a família precisa regular, os pais precisam regular. A criança precisa ser civilizada, educada, receber boas maneiras, bons costumes, senão seria impossível para ela entrar na sociedade. É preciso que lhe digam: "Faça isso, não faça aquilo." E quando dizemos: "Faça isso", a realidade da criança pode não estar pronta para fazê-lo, aquilo pode não ser real, pode não haver nenhum desejo real dentro da criança para fazê-lo. E quando dizemos: "Não faça isso ou não faça aquilo", a natureza da criança pode querer fazê-lo. 

Condenamos o real e forçamos o irreal, pois o irreal será de ajuda numa sociedade irreal e será conveniente onde todos os demais são falsos. O real não será conveniente. Uma criança real estará numa dificuldade básica com a sociedade, pois a sociedade inteira é irreal. Este é um círculo vicioso. Nascemos numa sociedade, e até agora não existiu na terra nem uma única sociedade que fosse real. Isso é vicioso! Uma criança nasce numa sociedade, e a sociedade já existe com as suas regras fixas, regulamentações, comportamentos, moralidades... a criança precisa aprender. 

Quando ela crescer, ela se tornará falsa. Então ela gerará outras crianças e as ajudará a torná-las falsas, e isso segue adiante. O que fazer? Não podemos mudar a sociedade; ou, se tentarmos, não estaremos presentes quando a sociedade mudar, pois isso levará uma eternidade. O que fazer? 

O indivíduo pode ficar consciente desta divisão interna básica: o real foi reprimido e o irreal foi imposto. Isso é dor, sofrimento, o inferno. Não podemos obter qualquer satisfação através do irreal, pois através dele são possíveis somente satisfações irreais. E isso é natural. Somente através do real podem acontecer satisfações reais; através do real você pode alcançar a realidade, a verdade, e através do irreal você pode alcançar cada vez mais alucinações, ilusões e sonhos. E através de sonhos você pode enganar a si mesmo, mas nunca pode ficar satisfeito. 

Osho

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"Acredito que o maior presente que alguém me pode dar é ver-me, ouvir-me, compreender-me e tocar-me. O maior presente que eu posso dar é ver, ouvir, entender e tocar o outro. Quando isso acontece, sinto que fizemos contato" — Virginia Satir

"A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos — eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se (isto é, sofrer ofensa), porque nunca transporta um ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança.[...] A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade" — Krishnamurti