terça-feira, 17 de maio de 2016

Não nascemos neuróticos!

Certa vez Sigmund Freud disse que o ser humano nasce neurótico. Essa é uma meia-verdade; o ser humano não nasce neurótico, mas nasce numa humanidade neurótica, e a sociedade à volta mais cedo ou mais tarde leva todos à neurose. O ser humano nasce natural, real e normal, mas no momento em que o recém-nascido se torna parte da sociedade, a neurose começa a funcionar.
Como somos, somos neuróticos. E a neurose consiste numa divisão, numa profunda divisão. Você não é uno, e sim dois ou mesmo muitos. Isso precisa ser entendido profundamente, e somente então poderemos ir em direção ao Tantra. Seu sentimento e seu pensamento se tornaram duas coisas diferentes, e essa é a neurose básica. 

Sua parte pensante e sua parte que sente se tornaram duas, e você está identificado com a parte pensante, e não com a que sente. E o sentir é mais real e natural do que o pensar. Você veio com um coração que sente, e o pensamento é cultivado, é dado pela sociedade. E o seu sentimento se tornou algo suprimido; mesmo quando você diz que sente, você somente pensa que sente. O sentimento se tornou morto, e isso aconteceu por certas razões. 

Quando uma criança nasce, ela é um ser que sente, ela sente coisas; ela ainda não é um ser pensante. Ela é natural, como qualquer coisa natural na natureza — uma árvore ou um animal. Mas começamos a moldá-la, a cultivá-la. Ela precisa suprimir seus sentimentos, pois sem isso ela estará sempre em dificuldades. Quando ela quer chorar, ela não pode chorar, pois seus pais não aprovarão isso. Ela será condenada, não será apreciada e amada. Ela não é aceita como ela é; ela precisa se comportar, se comportar de acordo com uma ideologia particular, com ideais, e somente então será amada. 

O amor não é para ela como ela é. Ela pode ser amada somente se seguir certas regras, as quais são impostas e não-naturais. O ser natural começa a ser suprimido, e o não-natural, o irreal, lhe é imposto. Esse "irreal" é a sua mente, e chega um momento em que a divisão é tão grande que não se pode construir uma ponte. Você segue se esquecendo completamente o que era a sua natureza real — ou é. 

Você é uma face falsa; a face original se perdeu. E você também fica com medo de sentir a original, pois no momento em que a sentir, toda sociedade ficará contra você. Assim, você próprio fica contra a sua natureza real. Isso cria um estado muito neurótico. Você não sabe o que quer, não sabe quais são suas necessidades reais e autênticas, e então caminha em direção a necessidades não autênticas, pois somente o coração que sente pode lhe dar o sentido, a direção... Qual é a sua necessidade real? Quando ela é suprimida, você cria necessidades simbólicas.  

[...] Toda neurose é cisão. Se você se unir novamente, você se tornará novamente uma criança, inocente. E uma vez conhecida essa inocência, você pode continuar a se comportar em sua sociedade como ela requer, mas agora esse comportamento é apenas um teatro, uma encenação. Você não se envolve; é uma exigência e você o faz, mas você não está na coisa, e sim apenas encenando. Você terá que usar faces irreais, pois você vive num mundo irreal; senão, o mundo o esmagará e o matará. 

Assassinamos muitas faces reais. Crucificamos Jesus porque ele começou a se comportar como um ser humano real. A sociedade irreal não tolerará isso. Envenenamos Sócrates por que ele começou a se comportar como um ser humano real. 

Comporte-se como a sociedade exige; não crie dificuldades desnecessárias para você mesmo e para os outros. Mas uma vez conhecido o seu ser real e a totalidade, a sociedade irreal não poderá levá-lo à neurose, não poderá deixá-lo louco. 

Osho 

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"A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos — eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se (isto é, sofrer ofensa), porque nunca transporta um ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança.[...] A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade" — Krishnamurti