[...] PERGUNTAM OS PAIS alguma vez a si mesmos por que têm filhos? Têm filhos para perpetuar o seu nome, conservar sua propriedade? Desejam filhos unicamente para deleite próprio, para satisfação de suas necessidades emocionais? Se assim é, tornam-se os filhos mera projeção dos desejos e temores dos pais.
Podem os pais protestar amor aos filhos quando, educando-os erroneamente, fomentam a inveja, a inimizade e a ambição? É amor estimular antagonismos nacionais e raciais, conducentes à guerra, à ruína e à aflição extrema? É amor lançar os homens uns contra os outros em nome de religiões e ideologias?
Muitos pais impelem os filhos para as vias do conflito e do sofrimento, não só permitindo que sejam inconvenientemente educados, mas também pela própria conduta na vida; e depois, quando os filhos crescem e sofrem, rezam por eles ou procuram escusas para seu comportamento. O sofrimento dos pais pelos filhos é uma espécie de autocompaixão, decorrente do sentimento de posse; tal coisa só pode acontecer quando não existe amor.
Se os pais amarem os filhos, não serão nacionalistas, nem se identificarão com nação alguma, porque o culto do Estado produz a guerra, que mata e lhe mutila os filhos. Se os pais amarem os filhos, descobrirão a relação correta com a propriedade, porque o instinto de posse conferiu à propriedade um extraordinário e falso significado, que está destruindo o mundo. Se os pais amarem os filhos deixarão de pertencer a qualquer organização religiosa, porque o dogma e a crença dividem os indivíduos em grupos antagônicos, criando inimizade entre os homens. Se os pais amarem os filhos porão fim à inveja e à competição e tratarão de alterar fundamentalmente a estrutura da moderna sociedade.
Enquanto desejarmos que nossos filhos sejam poderosos, ocupem posições mais importantes e melhores, alcancem êxitos cada vez maiores, não existirá amor em nossos corações, pois o culto do bom êxito fomenta o conflito e o sofrimento. Amar os filhos é estar em perfeita comunhão com eles, é interessar-se em que tenham a espécie de educação que os ajude a ser sensíveis, inteligentes e integrados.
Krishnamurti, A educação e o significado da vida
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