quinta-feira, 2 de junho de 2016

Será que realmente amamos nossos filhos?

[...] PERGUNTAM OS PAIS alguma vez a si mesmos por que têm filhos? Têm filhos para perpetuar o seu nome, conservar sua propriedade? Desejam filhos unicamente para deleite próprio, para satisfação de suas necessidades emocionais? Se assim é, tornam-se os filhos mera projeção dos desejos e temores dos pais.

Podem os pais protestar amor aos filhos quando, educando-os erroneamente, fomentam a inveja, a inimizade e a ambição? É amor estimular antagonismos nacionais e raciais, conducentes à guerra, à ruína e à aflição extrema? É amor lançar os homens uns contra os outros em nome de religiões e ideologias?

Muitos pais impelem os filhos para as vias do conflito e do sofrimento, não só permitindo que sejam inconvenientemente educados, mas também pela própria conduta na vida; e depois, quando os filhos crescem e sofrem, rezam por eles ou procuram escusas para seu comportamento. O sofrimento dos pais pelos filhos é uma espécie de autocompaixão, decorrente do sentimento de posse; tal coisa só pode acontecer quando não existe amor.

Se os pais amarem os filhos, não serão nacionalistas, nem se identificarão com nação alguma, porque o culto do Estado produz a guerra, que mata e lhe mutila os filhos. Se os pais amarem os filhos, descobrirão a relação correta com a propriedade, porque o instinto de posse conferiu à propriedade um extraordinário e falso significado, que está destruindo o mundo. Se os pais amarem os filhos deixarão de pertencer a qualquer organização religiosa, porque o dogma e a crença dividem os indivíduos em grupos antagônicos, criando inimizade entre os homens. Se os pais amarem os filhos porão fim à inveja e à competição e tratarão de alterar fundamentalmente a estrutura da moderna sociedade.

Enquanto desejarmos que nossos filhos sejam poderosos, ocupem posições mais importantes e melhores, alcancem êxitos cada vez maiores, não existirá amor em nossos corações, pois o culto do bom êxito fomenta o conflito e o sofrimento. Amar os filhos é estar em perfeita comunhão com eles, é interessar-se em que tenham a espécie de educação que os ajude a ser sensíveis, inteligentes e integrados.

Krishnamurti, A educação e o significado da vida

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

"É porque se espalha o grão que a semente acaba
por encontrar um terreno fértil."-
Júlio Verne


>>>>>>>>>>>>>>

"A aventura é, sempre e em todos os lugares, uma passagem pelo véu que separa o conhecido do desconhecido; as forças que vigiam no limiar são perigosas e lidar com elas envolve riscos; e, no entanto, todos os que tenham competência e coragem verão o perigo desaparecer." — Joseph Campbell em, O Herói de Mil Faces

"Acredito que o maior presente que alguém me pode dar é ver-me, ouvir-me, compreender-me e tocar-me. O maior presente que eu posso dar é ver, ouvir, entender e tocar o outro. Quando isso acontece, sinto que fizemos contato" — Virginia Satir

"A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos — eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se (isto é, sofrer ofensa), porque nunca transporta um ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança.[...] A mente em conflito não tem nenhuma possibilidade de compreender a Verdade" — Krishnamurti